Período pró-dinástico: a formação do Egito
O trabalho coletivo deixou de ser uma necessidade no Egito Antigo, uma vez que cada família passou a ser proprietária das terras que cultivava. A desagregação das comunidades primitivas ocorreu na medida em que a agricultura se desenvolveu e os utensílios de cobre foram substituindo os de osso e pedra até então utilizados. A perda das propriedades por muitas famílias fez com que aumentasse o número de camponeses dominados pelos senhores poderosos. Surgiram, assim, pequenas unidades politicamente independentes, denominadas nomos, cada uma delas governada por um nomarca.
Todos esses acontecimentos ocorreram antes que surgisse o primeiro faraó — chefe supremo. Por isso, tal fase é conhecida como período pré-dinástico. Os nomos não demoraram a entrar em choque uns com os outros. Os nomos menores desapareceram, anexados pelos mais fortes. O represamento das águas obrigou muitas famílias a abandonar suas terras e ir trabalhar em nomos vizinhos.
As lutas levaram à constituição de dois remos, um ao sul e outro ao norte, conhecidos como Alto e Baixo Egito. O reino do sul tinha como símbolo uma coroa branca e o reino do norte era simbolizado por uma coroa vermelha.
Por volta de 3200 a.C., um rei do sul, Menés, venceu o norte e unificou o Egito, colocando em sua cabeça as coroas branca e vermelha. A capital do reino passou a ser Tínis e Menés tomou-se o primeiro faraó.
O Antigo Império (3200 a 2200 a.C.)
Os sucessores de Menés permaneceram no poder por mais de um milênio e durante todo esse período o Egito antigo viveu um isolamento quase completo. O faraó detinha o poder supremo, sendo considerado uma encarnação do próprio deus Rá (o Sol). Sua presença era imprescindível até para as enchentes do Nilo, nas épocas certas do ano.
Durante essa fase da história egípcia, a camada sacerdotal adquiriu grande influência e riqueza. Foram construídas as três grandes pirâmides de Gizé, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfrem e Miquerinos. Na nova capital, Mênfis, havia grandes estoques de grãos arrecadados ao povo e rigorosamente vigiados pelos escribas.
Uma nobreza privilegiada cooperava na administração e na exploração dos camponeses, angariando grande poder. Esse fortalecimento levou-a a tentar assumir o controle direto do Estado.
Seguiu-se um período de anarquia em que praticamente cada nobre se julgava em condições de ocupar o trono faraônico; o clero aproveitou-se para expandir seu poder político, apoiando ora este, ora aquele pretendente ao título de faraó.
O Médio Império (2000 a 1750 a.C.)
Nessa fase teve início uma nova dinastia e outra capital: a cidade de Tebas. O Egito antigo expandiu-se em direção ao sul, aperfeiçoou a rede de canais de irrigação e estabeleceu colônias mineradoras no Sinai. A ambição dos nobres e do clero fez com que o cobre fosse buscado fora da África, tomando o Egito conhecido de outras populações do Oriente Médio.
Alguns povos procedentes da Ásia Menor desencadearam uma série de ataques em direção ao vale do Nilo. Finalmente, os hicsos, povo semita que já conhecia o cavalo e o ferro, derrotaram as forças faraônicas do Sinai e ocuparam a região do delta do Egito, onde se instalaram de 1750 a 1580 a.C. Foi durante essa dominação estrangeira que os hebreus se estabeleceram no Egito.
O Novo Império (1580 a 1085 a.C.)
O faraó Amósis I expulsou os hicsos, dando início a uma fase militarista e expansionista da história egípcia. Sob o reinado de Tutmés III, a Palestina e a Síria foram conquistadas, estendendo o domínio do Egito até as nascentes rio Eufrates.
Durante esse período de apogeu, o faraó Amenófis IV empreendeu uma revolução religiosa e política. O soberano substituiu o politeísmo tradicional, cujo deus principal era Amon-Ra, por Aton, simbolizado pelo disco solar. Essa medida tinha por finalidade eliminar a supremacia dos sacerdotes, que ameaçavam sobrepujar o poder real. O faraó passou a denominar-se Akhnaton, atuando como supremo sacerdote do novo deus. A revolução religiosa teve fim com o novo faraó Tutancaton, que restaurou o politeísmo e mudou seu nome para Tutancamon.
Com a instauração da capital em Tebas, os faraós da dinastia de Ramsés 11(1320-1232 a.C.) prosseguiram as conquistas. O esplendor do período foi demonstrado pela construção de grandes templos, como os de Luxor e Carnac.
As dificuldades do período começaram a surgir com as constantes ameaças de invasão das fronteiras. No ano 663 a.C., os assírios invadiram o Egito.
O Renascimento Saíta (663 a 525 a.C.)
O faraó Psamético I expulsou os assírios e instalou a capital em Saís, no deita do rio Nilo. A recuperação do período foi marcada pela ampliação do comércio, graças ao trabalho de alguns soberanos.
As lutas pela posse do trono levaram o Egito à ruína. Os camponeses se levantaram e a nobreza digladiava-se com o poderoso clero. Novas invasões sobrevieram: os persas, em 525 a.C., na batalha de Pelusa; o rei macedônio Alexandre Magno, em 332 a.C.; e os romanos, em 30 a.C., pondo fim ao Egito como Estado independente.
2. A organização econômica do Egito Antigo No decorrer de sua história, o Egito transformou-se em uma imensa civilização presa ao comportamento do rio; a população dedicava-se a lavrar o solo e a levar uma vida pacífica. Gozando de uma proteção natural, proporcionada pelos acidentes geográficos — Mar Vermelho, a leste; deserto da Líbia, a oeste; Mediterrâneo, ao norte; e o deserto da Núbia, ao sul — o Egito pôde gozar de paz externa durante a maior parte da Antigüidade.
O Egito antigo teve na agricultura a maior concentração de trabalho, constituindo-se em uma das mais privilegiadas civilizações do Oriente Médio, considerada o grande celeiro do mundo antigo. As terras mostravam-se férteis e generosas, favorecidas pelo rio e pela fertilização natural, beneficiadas pelos diques e canais de irrigação. Ao longo do Nilo estendiam-se as plantações de trigo, cevada e linho cuidadas pelos felás (camponeses egípcios), desenvolvendo-se rapidamente graças ao aperfeiçoamento das técnicas de plantio e semeadura. A charrua, puxada pelos bois, e o emprego de metais propiciaram grandes colheitas. Teoricamente, as terras pertenciam ao faraó, porém a nobreza detinha grande parte delas. Enormes armazéns guardavam as colheitas, que eram administradas pelo Estado. Uma parte da produção chegava a ser exportada.
O comércio processava-se entre o Alto e o Baixo Egito por meio de embarcações que subiam e desciam o rio abarrotadas de cereais e produtos artesanais. A presença da tecelagem, da fiação e a confecção de sandálias de folhas de papiro, bem como a ourivesaria, propiciaram um desenvolvimento razoável do comércio interno, uma vez que poucas relações eram tidas com o exterior.
O pastoreio completava os trabalhos na terra. Rebanhos de gado bovino e ovino podiam ser vistos nos campos próximos ao rio, cuidados por pastores.
De um modo geral, a economia egípcia é enquadrada no modo de produção asiático, em que a propriedade geral das terras pertencia ao Estado e as relações sociais de produção fundamentavam-se no regime de servidão coletiva (não se pode, porém, falar em modo de produção servil, aplicável somente ao sistema feudal). As comunidades camponesas, presas à terra que cultivavam, entregavam os resultados da produção ao Estado, representado pela pessoa do rei. Este, às vezes, obrigava os camponeses a trabalhar na construção de canais de irrigação e barragens, propiciando o desenvolvimento da agricultura e o sustento precário dos aldeães.
3. A sociedade egípcia Nessas “sociedades hidráulicas”, a distinção social começou a se fazer notar quando a luta pela posse das áreas cultiváveis levou a se defrontarem os camponeses, na posição de possuidores da força de trabalho, e os proprietários das terras, que delas se apoderaram e as mantinham invocando a proteção dos deuses e dos sacerdotes.
O topo da pirâmide social era ocupado pela família do faraó; este, por se considerar um deus encarnado, possuía prerrogativas únicas.
O estamento sacerdotal também ocupava uma posição invejável, juntamente com a nobreza detentora das terras e do trabalho dos camponeses. Com o crescimento do comércio e do artesanato, durante o Médio Império, surgiu uma classe média empreendedora, a qual chegou a conquistar uma certa posição social e alguma influência no governo.
Os burocratas passaram a ocupar um lugar destacado na administração, principalmente no que tangia ao recolhimento da produção dos camponeses. Havia toda uma hierarquia de escribas, cujo grau variava de acordo com a confiança neles depositada pelo faraó e nobreza.
Os artesãos ocupavam uma posição inferiorizada, junto aos camponeses. Estes eram fiscalizados por funcionários especiais.
Apesar de o governo manter escolas públicas, estas formavam, em sua maioria, escribas destinados a trabalhar na administração do Estado Faraônico.
4. A vida religiosa e o politeísmo no Egito Antigo A religiosidade dos povos orientais pode facilmente ser aquilatada por uma constatação atual, pois as cinco grandes religiões de nossos dias tiveram suas origens no Oriente. Uma enorme variedade de deuses, fórmulas religiosas e cultos são provenientes dessas regiões.
A existência dos deuses satisfazia à ânsia do homem em ver atendidas suas aspirações e ao mesmo tempo afastava seus temores íntimos. Protetores da água, da chuva, da colheita, das plantas, dos pescadores, eram todos cultuados por formas que iam desde o incenso até ao sacrifício de animais e homens, tudo com intenção de conseguir suas boas graças. Os próprios governantes se revestiam de caracteres divinos a fim de serem mais respeitados. Paralelamente à instituição religiosa, estruturaram- se os sacerdotes, uma camada fechada que cresceu em praticamente todas as civilizações antigas. O clero ocupava uma posição social e econômica privilegiada, influenciando o governo e o povo.
No Egito antigo, como em quase toda a Antigüidade, a religião assumia a forma politeísta, compreendendo uma enorme variedade de deuses e divindades menores.
No Egito, muitos animais gozavam de um culto todo especial, como era o caso do gato, do crocodilo, do íbis, do escaravelho e do boi Apis; havia também divindades híbridas, com corpo humano e cabeça de animal: Hator (a vaca), Anúbis (o chacal), Hórus (o falcão protetor do faraó). Havia ainda deuses antropomórficos, como Osíris e sua esposa Isis.
O Mito de Osíris ilustra bem a religiosidade dos egípcios, a ponto de terem se decidido a erigir túmulos e templos em homenagem à morte e à vida futura.
O principal deus egípcio era Amon-Ra, combinação de duas divindades, e que era representado pelo Sol; em torno dele girava o poder sacerdotal. A preocupação com a vida futura era grande e os cuidados com os mortos eram contínuos, bastando lembrar as cerimônias fúnebres, nas quais se realizavam as oferendas de alimentos e de incenso.
Acreditava-se em um julgamento após a morte, quando o deus Osíris iria colocar em uma balança o coração do indivíduo, para julgar seus atos. Os justos e os bons teriam como recompensa a reincorporação e depois iriam para uma espécie de Paraíso.
O trecho abaixo, extraído do Livro dos Mortos dos egípcios, descreve o júbilo daquele que foi absolvido pelo tribunal de Osíris:
“Salve, Osíris, meu divino pai! Tal como tu, cuja vida é imperecível, os meus membros conhecerão a vida eterna. Não apodrecerei. Não serei comido pelos vermes. Não perecerei. Não serei pasto dos bichos. Viverei, viverei! As minhas entranhas não apodrecerão. Os meus olhos não se fecharão, a minha vista permanecerá tal como hoje é. Os meus ouvidos não deixarão de ouvir .
A minha cabeça não se separará do meu pescoço. A minha língua não me será arrancada, Os meus cabelos não me serão cortados. Não me serão raspadas as sobrancelhas. O meu corpo conservar-se-á intacto, não se decomporá, não será destruído neste mundo.”
A experiência monoteísta
Por volta de 1360 a.C., o Egito antigo viu nascer o primeiro culto monoteísta — o culto a Aton. Afirma-se que foi a primeira religião monoteísta da História, sendo mesmo ante- flor à dos hebreus. O politeísmo entravava o progresso egípcio, pois a camada sacerdotal era muito grande e sua manutenção resultava onerosa para o Estado. Os sacerdotes interferiam constantemente nos assuntos políticos e o próprio faraó, muitas vezes, não passava de um joguete do clero. Aproveitando-se da religiosidade do povo, os sacerdotes alcançaram uma extraordinária ascendência, convertendo a civilização egípcia como que em sua propriedade particular.
O perigo do poder clerical foi sentido por Amenófis III que, para se livrar da influência do clero, mudou seu palácio para longe dos templos.
Contra a tradição politeísta levantou-se o faraó Amenófis IV, que instituiu uma nova religião, com o culto dedicado a um deus único: Aton (o disco solar). Esperava com isso quebrar o poder da camada sacerdotal. Organizou um novo clero e mudou sua capital para a cidade de Aquetaton, “horizonte de Aton” (atual Tell ElAmarna). Trocou seu nome para Akhnaton, “servidor de Aton”, e compôs um Hino ao Sol. Essa tentativa monoteísta, porém, foi efêmera. Com a morte de Amenófis, as coisas voltaram ao estágio anterior e o clero e a nobreza recuperaram sua influência.
=
5. A herança cultural do Egito Antigo Muitos edifícios construídos no Egito antigo chegaram até nós em bom estado de conservação. Pirâmides, hipogeus, templos e palácios de dimensões gigantescas atestam a importância da arquitetura egípcia.
Tendo-se voltado para a vida coletiva e religiosa, as construções egípcias são marcadas pela grandiosidade dos templos e dos túmulos. Os templos de Carnac e Luxor nos dão mostras de como a arte e a religião estavam interligadas. A solidez, a grandiosidade e os artifícios procurando exaltar o volume são as características mais salientes dessas obras. Estátuas de deuses e faraós acompanham essas dimensões, com decorações esculpidas e pintadas descrevendo episódios ligados às figuras representadas.
A pintura egípcia prendeu-se principalmente a temas da Natureza e da vida cotidiana, sendo muitas vezes acompanhada de hieróglifos explicativos.
A invenção da escrita propiciou o desenvolvimento da literatura. A escrita ideográfica, nascida no Egito, iria evoluir para o alfabeto fonético com os fenícios. Utilizando três formas de escrita (hieroglífica, hierática e demótica), os egípcios deixaram-nos obras religiosas como o Livro dos Mortos e o Hino ao Sol, além da literatura popular de contos e lendas.
A decifração da escrita egípcia foi feita por Jean-François Champollion que, observando e comparando os diversos tipos de escrita encontrados em um achado arqueológico, estabeleceu um método de leitura graças ao grego arcaico que também se encontrava no texto. Surgiu assim a ciência conhecida como Egiptologia, a qual vem constantemente evoluindo com novas descobertas e restaurações.
As ciências exatas também tiveram oportunidade de expansão, uma vez que as necessidades de ordem prática forçaram o desenvolvimento da Astronomia e da Matemática. A Geometria desenvolveu-se pela necessidade de se redemarcarem as terras quando as águas do Nilo voltavam a seu leito. A Medicina, por sua vez, está de certa forma ligada à própria prática da mumificação, o que a levou a um desenvolvimento razoável; por outro lado, a farmacopéia egípcia notabilizou-se por sua variedade. Havia instituições de sacerdotes-médicos e os papiros atestam o regular conhecimento de doenças e a própria especialização da atividade médica.
A mumificação constituiu uma técnica de grande importância na civilização do Egito antigo. Os métodos, até hoje pouco conhecidos, produziram resultados notáveis, que se podem ver em museus de diversas partes do mundo.
Arte no Egito Antigo
Templo de Karnak: a bela arte do Egito Antigo
A civilização egípcia é uma das que mais exercem fascínio sobre os homens, grande parte associada a sua religiosidade, suas práticas de conservação de cadáveres e mumificação - até hoje não totalmente desvendadas - e suas construções grandiosas como as Pirâmides e a Esfinge.
Começou a formar-se há mais ou menos quatro mil anos antes de Cristo, nas proximidades do Rio Nilo. O rio, um verdadeiro oásis no deserto, foi essencial para a concentração de uma população mesclada entre mediterrâneos, asiáticos e africanos, que, principalmente a partir de 3300 a.C., tinham na agricultura e no pastoreio suas principais atividades, guiadas pelas cheias do Nilo. Juntamente com os povos Mesopotâmicos, os egípcios foram os primeiros a atingir o estado de civilização. Após a unificação do norte e sul, por volta de 3000 a.C., o Egito foi cada vez mais se desenvolvendo.
Nesse período inicial da história antiga do país - conhecido como período Pré-Dinástico - encontramos alguns aspectos da cultura e arte egípcia que acabariam por orientar as épocas subseqüentes. A escrita dava seus primeiros passos, bem como as técnicas sobre metais (em especial os mais moles como o ouro e o cobre), a tecelagem e a cerâmica. Já é dessa fase o hábito de se representar os governantes, como Narmer (provavelmente o rei que unificou os reinos do Norte e do Sul) em larga escala, em tamanho muito superior aos demais objetos representados - essa característica da representação egípcia permanece durante quase toda sua história.
Outras características importantes das representações humanas egípcias também já aparecem nessa época, como cabeças e pés vistos de perfil, com os olhos mostrados frontalmente e braços e pernas apresentados por inteiro. A respeito dessas representações contorcidas, extremamente conhecidas da arte egípcia, cabe fazer algumas observações. Elas eram realizadas, por exemplo, a partir dos ângulos que melhor representassem determinada parte do corpo. Assim, a cabeça, braços e pernas são mais facilmente vistos de lado, os pés, melhor vistos de dentro (preferiam o contorno partindo do dedão, o que muitas vezes dava a impressão de dois pés esquerdos). Os olhos, por sua vez, de frente são mais expressivos, bem como a metade superior do tronco, mais nítidas se observadas de frente. O “Retrato de Hesire“, esculpido numa porta de túmulo há cerca de dois mil e setecentos anos antes de Cristo é uma boa amostra dessas representações de figuras humanas.
A arte e a cultura egípcia, de uma maneira geral, era bastante conformista e tradicional. As mudanças não eram bem vistas e os padrões estéticos mantiveram-se praticamente sem alterações por praticamente três mil anos (com exceção da época de Akhenaton, que veremos a seguir). O “talento“ de um artista dependia menos de sua originalidade (não era esperado isso dele) do que do rigor com que reproduzia a arte do passado. O período da História egípcia, entre aproximadamente 2780 a.C. e 2200 a.C., é conhecido como Antigo Império ou Reino Antigo. São dessa época as primeiras construções de pirâmides, monumentos funerários extremamente elaborados, que são uma das marcas registradas do antigo Egito. Essas enormes construções geométricas de pesadas pedras, simbolizando profunda solidez e força, eram construídas para abrigarem, em seu centro, a múmia do faraó. Possuíam, além da própria câmara funerária (normalmente repleta de tesouros), várias câmaras “decoradas“ com imagens e fórmulas mágicas. Talvez as mais conhecidas pirâmides sejam as três construídas na quarta dinastia: a de Quéops, Quefren e Miquerinos, de Gizé, perto de Mênfis (então capital do Império).
A esfinge, com corpo de leão, cabeça e busto de mulher, com 19,8 metros de altura, também dessa época, já demonstra o gosto egípcio por esculturas em larga escala. Um exemplo mais típico de escultura do período é a enorme estátua do Rei Quefrem, na posição solene que seria outra marca registrada das representações de faraós do país: sentado, com ar de autoridade e poder e as mãos sobre o joelho.
A crença egípcia na vida após a morte, além de ter nos deixado as pirâmides, (e no casos dos mais abastados, que não eram faraós, as mastabas, ou túmulos de tijolos), ainda forneceu algumas representações de rostos com os aspectos essenciais da cabeça. Combinam uma rigidez geométrica ao naturalismo (não extremo), como demonstra um busto em rocha calcária encontrada num túmulo em Gizé e hoje no Museu Kunsthistorìsches, de Viena. A pedra calcária e a madeira eram os principais materiais com que as esculturas dessa época eram realizadas. As esculturas em relevo e as pinturas, principalmente decorando paredes de tumbas, também aparecem nesse período. Seus temas normalmente referiam-se à vida egípcia, como caçadas, pescas e o cultivo da terra, além de mostrar os animais característicos da região, revelando grande poder de observação. Um dado interessante nas pinturas era a extrema importância dada ao colorido.
Escultura Egípcia
Depois de um Período Intermediário, entre 2134 e 2065 a.C, após o enfraquecimento das dinastias do Antigo Império, começa o Médio Império, sob a liderança de Mentuhotep, tendo Tebas como a principal cidade. Estendeu-se de aproximadamente 2065 a.C. a 1785 a.C.. A arte, de uma maneira geral, manteve o estilo que se consolidou no Alto Império. Um exemplo da arte realizada nessa época pode ser dado pelas pinturas realizadas na parede do túmulo de Chnemhotep, cerca de mil e novecentos anos antes de Cristo, nas proximidades de Beni Hassan. Trata-se de um alto funcionário, sacerdote e amigo do Imperador, como se desprende pelos hieróglifos (escrita mais refinada egípcia, utilizada nos monumentos, com sinais da flora e fauna do país). Em tamanho maior que as outras representações da pintura, é mostrado do lado direito pescando, e do lado esquerdo, caçando aves perto de sua mulher, de sua concubina e de seu filho, em tamanhos menores. Chenemhotep novamente é representado em cima da porta, apanhando aves, agora com o auxílio de uma rede, utilizando-se de métodos de caçada egípcios. Num friso abaixo, pescadores puxam uma pescaria. A composição e a ordem aqui presentes são uma marca da pintura egípcia. Nessa época, o granito já é o material predominantemente utilizado nas esculturas. É ainda contemporâneo ao período os colossos de Memnon e Ipsambul e os templos talhados na própria rocha.
Hieróglifos
O Novo Império estendeu-se entre 1580 e 1200 a.C.. Iniciou-se após a expulsão dos hicsos (povos asiáticos que invadiram o país a partir do delta do Nilo, redividindo o Império entre 1785 e 1580 a.C.) e o restabelecimento da autoridade do faraó. Um dos principais acontecimentos desse período foi a revolução religiosa e cultural promovida por Amenófis IV. Ao invés dos vários deuses que sempre governaram a vida egípcia, tentou instituir o culto a um único deus: Aton, que deveria ser representado como um sol. Mudou seu nome para Akhenaton e transferiu a capital do Império de Tebas para El-Amarna. A arte dessa época, que até então mantinha-se fiel às tradições do passado, foi bastante modificada. Tornou-se menos pesada e mais descritiva. As representações dos faraós, que mantinham-se praticamente inalteradas desde o começo da história do país, agora eram realizadas de uma maneira menos formal e solene, em poses mais relaxadas. Cenas como o faraó passeando com a esposa pelos jardins ou pondo a filha no colo eram encomendadas pelo governante, chocando os austeros padrões egípcios. É famoso o retrato de Amenófis IV, realizado em relevo num calcário que o mostra como um homem feio, com ênfase no queixo e lábios, numa representação muito provavelmente pouco idealizada e talvez próxima à face real do Imperador. O busto “Rainha Nefertiti“ - esposa desse faraó que muito o ajudou na implementação da reforma religiosa - é outra famosa representação do período, com uma graça e fluidez jamais vista na arte egípcia. Após sua morte, o reinado de seu filho Tutancâmon logo restabeleceu as antigas crenças (os sacerdotes obrigaram a mudar seu nome para Tutancâmon). Apesar disso, o estilo artístico da época anterior prosseguiu durante seu reinado. Em seu túmulo, encontrado intacto em 1922, pode ser encontrada a talha dourada pintada no seu trono, em que ele é mostrado numa cena doméstica com sua esposa, de uma maneira relaxada e tendo acima de sua cabeça a representação do Sol.
Entretanto, esse período foi bastante atípico na arte do Egito antigo e logo após Tutancâmon voltaram os padrões tradicionais de arte, consagrados desde a época Pré-Dinástica e o Antigo Império. Após o reinado de Ramsés II (aproximadamente 1200 a.C.), o Egito entra cada vez mais em decadência. Esse soberano é conhecido por suas construções, em especial seu próprio templo mortuário talhado em pedra e guardado por quatro estátuas, representando sua figura, de 18,3 metros. Os persas, o exército de Alexandre Magno e posteriormente os romanos acabaram por dominar definitivamente o Egito, que nunca mais teve um período de apogeu tão grande quanto o verificado nessa época histórica.
Rio Nilo
Há mais de cinco mil anos o Rio Nilo vem proporcionando riquezas para as sucessivas civilizações e culturas que floresceram as suas margens. O limo transportado pelas águas e o controle de sua vazão, por meio de barragens, assegura a irrigação permanente das planícies por ele banhadas, que chegam a produzir três colheitas por ano: no inverno, trigo, cevada, cebola e linho; no outono, arroz e milho; no verão, algodão, arroz, cana-de-açúcar e oleaginosas.
O Nilo é o mais extenso rio do globo, com um curso de 6.650km, no sentido sul-norte, e uma bacia de cerca de 3.349.000km2, ou cerca de um décimo da área do continente africano. Localizado na região nordeste da África, nasce nos altos planaltos lacustres dos territórios da Tanzânia e Uganda, atravessa o Sudão e o Egito, e desemboca no Mediterrâneo. Seu caudal médio anual é de 3.100m3 por segundo.
A complexidade do sistema hídrico da região em que se encontram as cabeceiras do Rio Nilo torna difícil a identificação do início de seu curso. Sua fonte mais distante é o rio Kagera, no Burundi. Atravessa ou forma os limites de Tanzânia, Ruanda e Uganda e deságua no lago Vitória. Toma então o nome de Nilo Vitória, atravessa os lagos Kyoga e Albert, e entra no Sudão, com o nome de al-Jabal, até sua confluência com os rios Al-Ghazal e Sobat.
Após a confluência com o Sobat, a corrente principal toma a denominação de Nilo Branco até a confluência com o Nilo Azul e encontra o Nilo Branco próximo à cidade de Khartum. Aí recebe seu último grande tributário, o Atbara. Abaixo da confluência com o Atbara, o Rio Nilo descreve uma ampla curva em forma de S na direção noroeste e forma três cataratas antes de penetrar no lago Nasser.
Do lago, onde se encontra a represa de Assuã, o rio corta o Egito até o delta do Nilo, próximo ao Cairo, onde se divide em dois braços, Damietta e Rosetta, intercalados por diversos canais naturais em uma zona de aluviões férteis e com numerosas lagunas. Em seu vale estão localizadas as mais importantes cidades do Egito e do Sudão. Suas águas banham as cidades de Assiut, Lúxor, Assuã e Khartum. Cairo e Alexandria se encontram a montante do delta.
O regime do Rio Nilo é pluvial tropical, com grande irregularidade no volume de água. Suas enchentes são conseqüência das chuvas de verão que caem sobre o planalto etíope, com mais intensidade no mês de setembro, e elevam o nível de suas águas até sete metros acima da altura normal. O primeiro projeto de aproveitamento das águas do rio data da época de Amenemés II, que construiu um grande açude nos arredores da cidade de Gizé. O represamento das águas do Rio Nilo pela barragem de Assuã criou um gigantesco reservatório na fronteira entre Egito e Sudão, com capacidade bruta de 168,9 bilhões de metros cúbicos, que assegurou a irrigação de mais 283.000 hectares de terra e é uma excepcional fonte de energia hidrelétrica. A parte do reservatório que pertence ao Egito recebeu o nome de lago Nasser em homenagem ao ex-presidente Gamal Abdel Nasser. O terço restante, no Sudão, chama-se lago Núbia.
Mapa do Rio Nilo
Questões:
01. (FAAP) A Astronomia e a Matemática foram os primeiros ramos da ciência que ocuparam a atenção dos
egípcios. Ambas se desenvolveram com fins práticos. Cite dois resultados para os quais essas ciências deram sua contribuição.
02. (PUC) A atuação do Estado na vida econômica dos povos da Antigüidade Oriental, principalmente
em relação à agricultura, foi bastante acentuada, sendo justificada por eles como:
a) forma de garantir a produção de gêneros de primeira necessidade sem excedentes lucrativos;
b) necessária para assegurar as provisões para consumo do Exército;
c) decorrente da necessidade de controlar a produção em tempo de guerra;
d) única maneira de garantir a distribuição eqüitativa da riqueza entre os súditos;
e) responsabilidade atribuída aos governantes para zelarem pelo bem comum.
03. (FUND. CARLOS CHAGAS) No Novo Império Egípcio (1580 - 525 a. C.), a revolução promovida por
Amenófis IV (também chamado Akhnaton) teve grande significado porque consistiu na:
a) expulsão dos hicsos, povo semita que dominava o Egito desde o Antigo Império;
b) unificação das diferentes províncias - nomos - evitando assim a fragmentação do Estado;
c) realização de modificações na estrutura social do Egito, para eliminar as oligarquias agrárias;
d) promoção de ampla reforma agrária, de modo a atenuar a miséria dos camponeses;
e) introdução de uma religião monoteísta, a fim de limitar a influência política dos sacerdotes.
04. (OSEC)
I. ( ) "Estes nomos eram cidades-Estados, nas quais se iniciou a dissolução da propriedade
coletiva, com o surgimento, no interior de cada um, de uma espécie de aristocracia, proprietária das melhores terras."
II. ( ) "Era o estado, personificado na figura do chefe supremo, que construía os grandes canais de
irrigação, como meio de desenvolver a agricultura, dirigindo para esse fim o trabalho excedente das comunidades."
III. ( ) "Tivemos também a cristalização das camadas sociais, tendo-se formado uma poderosa burocracia estatal (administrativa e religiosa) que tornou seus cargos hereditários."
IV. ( ) "Essa reforma religiosa, que estabeleceu o monoteísmo no Egito, teve por finalidade enfraquecer o poder dos sacerdotes de Amon, que representavam um perigo para a Monarquia."
Os textos acima estão ligados, respectivamente:
a) a Amenófis IV; à estratificação social dos impérios teocráticos com agricultura de regadio; ao reinado de
Ramsés II; à unificação política do Egito;
b) à formação do Império Assírio; ao regime político dos impérios teocráticos com agricultura de regadio; a
Amenófis IV; à formação do Novo Império Egípcio;
c) à formação do Império Egípcio; a Amenófis IV; à estratificação social dos impérios teocráticos
com agricultura de regadio; à conquista do Egito pelos hicsos;
d) à formação dos reinos egípcios; ao regime político dos impérios teocráticos com agricultura de regadio; à
estratificação social dos impérios teocráticos com agricultura de regadio; a Amenófis IV;
e) ao regime político dos impérios teocráticos com agricultura de regadio; à formação do império egípcio; a
Amenófis IV; à implantação do monoteísmo judaico no Egito.
05. Os Estados teocráticos da Mesopotâmia e do Egito evoluíram acumulando características comuns e
peculiaridades culturais. Os egípcios desenvolveram a prática de embalsamar o corpo humano porque:
a) se opunham ao politeísmo dominante na época;
b) seus deuses, sempre prontos a castigar os pecadores, desencadearam o Dilúvio;
c) depois da morte, a alma podia voltar ao corpo mumificado;
d) construíram túmulos em forma de pirâmides truncadas, erigidos para a eternidade;
e) os camponeses constituíam a categoria social inferior.
Nas questões 06 a 08, utilize o código:
a) Se I, II e III forem corretas.
b) Se I, II e III forem incorretas.
c) Se apenas I e II forem corretas.
d) Se apenas I e III forem corretas.
e) Se apenas II e III forem corretas.
06. I. No Egito Antigo, a agricultura era uma atividade privada.
II. Os egípcios desenvolveram princípios arquitetônicos de grande uso nos tempos atuais.
III. O culto dos vegetais e objetos inanimados foi o mais intenso entre os egípcios.
07. I. Nenhuma civilização antiga encontrou-se, como a do Egito, em condições tão favoráveis para
viver isolada e ao abrigo das influências estrangeiras.
II. A monarquia de origem divina encontrou no Egito sua mais enérgica expressão e conseqüências mais extremas.
III. O felá era utilizado no Egito para todo tipo de trabalho, desde os campos do faraó ou dos templos até
a construção de pirâmides.
08. I. O chamado "Novo Império" caracterizou-se por profundas transformações nas relações do Egito com
os povos vizinhos e por um questionamento de sua própria civilização.
II. Garantir a presença efetiva do Egito na Ásia Menor foi o objetivo dos soberanos desse
período, preocupados com a enorme instabilidade política daquela região.
III. Na Ásia, os faraós tebanos adotaram uma política de descentralização, conservando as estruturas
locais ao mesmo tempo em que substituíam, por militares egípcios, os cargos de mando no Exército.
09. (FAC. MED. AMIN) "Salve, ó Nilo (...) regas a terra em toda parte, ó deus dos grãos, senhor dos peixes,
produtor do trigo e da cevada (...) Logo tuas águas se erguem (...) todo ventre se agita, o dorso é
sacudido de alegria e os dentes rangem."
O trecho acima celebra:
a) o Egito, região quente e seca como o Saara;
b) a crença numa vida de além-túmulo e as dores do parto;
c) o relativo isolamento do vale, limitado pelos desertos da Arábia e da Líbia;
d) as nascentes desconhecidas do Rio Nilo;
e) o poder criador do regime das cheias e das vazantes do rio Nilo, que deixavam no solo um lodo de
grande fertilidade.